JURADO DE MORTE
Estava lá. Fazia o que queria. E ela o aceitava. Não tinha mais ninguém. Escolhera ele mesmo... Na miséria se agarra ao que está à mão. Na falta de coisa melhor vai tu mesmo. Vivia pensando nisso. Merda por merda vai ele mesmo, isso pensava ela. Sobre ele. Pensava. E ele? Pensava nada. Nunca havia pensado nada. Era um box de banheiro. Um vaso sanitário. Um daqueles anões que se colocam no jardim. Quase nada. Uma merda. Nada. Nada. Mas, na desgraça ela gostava dele. Gostava. E gostava muito. E por isso era assim... Fazia o que o puto pedia, o que ele gostava... Tudo... Ele era daquele tipo deita no sofá e pede a cerveja, o cobertor, o travesseiro. Nunca mais visitei aquela casa por causa dele. Não agüentava. Não entendia porque ela resistia. O puto, o merda o sem escrúpulos. Nem o mínimo... Na verdade, valia nada... Certo? Mas as coisas são assim. Ele estava jurado de morte. Esses tipos demoram pra sucumbir, mas não perdem por esperar. Suas vidas estão encomendadas, são mortos sobreviventes, embalagens que se deslocam nos cenários com destino certo; sem destino. Futuro zero. Vida zero. Ternura zero. Todo zero.
Assim foi. 24 de dezembro. À noite. Foi encontrado perto do morro. Virado de costas. Meio carcomido. Meio sorrindo pelos cantos da boca. Acho que sabia que seu futuro seria esse. Levava a vida como prêmio. Sabia que não valia nada. Ou não sabia de nada. Nem disso sabia.
10Nov08
3 Comentários:
Li hoje pela primeira vez. Escrito com raiva de quem parece sabr muito bem o que está escrevendo. Ou alguem que criou um personagem muito convincente. Criar personagens é o que sabemos fazer melhor.
T.
Fred...
Denso e angustiante.
Fictício ou real, apesar de ser uma parcela da alma e da vida, cria uma camada escura na aura. Vou aguardar ansiosa um texto cheio da leveza e das cores que vivem dentro de você.
Beijos...
D.
Alfredo !
Oh, não..logo hoje leio isto ?
Amar a quem nos ama parece-me mais encantador.
Beijos
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