segunda-feira, 22 de junho de 2009

VIAGEM MUSICAL



Foto: Só quem voa sabe porque os pássaros cantam - isabel almeida


Ficava enlevado com o som das músicas. Aquela seleção era muito especial. Provocava uma viagem aos seus sonhos. Cada música tinha um pedaço seu. Uma história passada. O desenho de uma paisagem e a presença de algum ser que ele considerava muito. Em algumas paisagens tinha animais que ele adorava, em outras, pássaros que chegavam e partiam de forma leve e rápida se revezando como o vento batendo nas árvores enormes e verdes fortes de lugares visitados, vividos ou sonhados. Havia ainda seres humanos, e esses compunham histórias que se confundiam com a sua história de vida. Desfilavam em sua memória pais e irmãos e parentes distantes, mas queridos, amigos e conhecidos que o enterneceram, abraçaram, ajudaram e compuseram seu quadro de referências do que fora a sua vida. Não computava tristezas do passado. Armazenava memórias agradáveis. Buscava ter uma vida mais amena, por isso esquecia, se é que se lembrava, o que não lhe convinha à sua felicidade. Não regredia tanto no tempo. Da infância não tinha muitos registros, mas tinha lembranças que indicavam que havia sido um período feliz. Não regredir, no entanto, não significava ter memória tão recente. Por descuido, muitas vezes, quando contava o tempo, poucas vezes, se assustava que aquela passagem se dera há quase um século atrás. As músicas não tinham passaporte. Eram universais. E, assim, como os sonhos, o passado se dava no espaço do mundo, sem restrição de épocas ou nações. Cada música uma viagem. Em cada viagem um sonho se mostrava cada vez mais claro e próximo. Nessas viagens perpetuava sua juventude, esquecia sua idade que se acumulava e perturbava. Um dia, sob uma valsa de Strauss, deitou-se de costas, apagou o cigarro, fechou os olhos, relaxou o corpo e foi descobrir porque os pássaros cantam.
22 de Junho de 2.009



Estou participando com este texto do Concurso Talentos da Maturidade promovido pelo Banco Santander. Visite-o no site do concurso: http://www.talentosdamaturidade.com.br/galeria/detalhe/work/1554

5 Comentários:

Às 22 de junho de 2009 às 23:41 , Anonymous Elaine Schubert disse...

Em cada viagem uma música.
Em cada música uma viagem.
Somos sempre os mesmos.Crianças!
É assim.....
Gostei do texto!

 
Às 24 de junho de 2009 às 00:54 , Anonymous De... disse...

Quase um século...de vida, de músicas, de memórias.
Existirá uma maneira mais bela para o derradeiro fechar de olhos: sob uma valsa de Strauss?

Poético, Fred...e intensamente belo!

 
Às 25 de junho de 2009 às 23:29 , Anonymous Alfredo disse...

Dois comentários? Duas leitoras? Sou tudo que esperava. Escrevo para isso... para provocar pensamentos, emoções e sentimentos, no sentido do Grande Código Isaias.. Que possamos transmitir amor, alegria, gratidão e estima... a todos o DNAs do planeta...

 
Às 29 de junho de 2009 às 12:00 , Blogger Tita disse...

Você vem melhorando Fredolino! É isso aí.
Soltar a escrita. Mas isso só começa a dar resultados quando a gente também se torna uma pessoa mais leve. As coiass tem que vir de dentro. Mas quanto mais forçamos o de fora, mais o de dentro acompanha.
Beijo,
Tita

 
Às 29 de outubro de 2009 às 18:56 , Blogger JIsmael disse...

Burghao
Cara eh tao dificil escrever para quem escreve como vc!Medito, releio eh dificil... sei, por outro lado, que me agrada muitissimo! Intenso, intrinsico! Vc consegue exteriorizar o que nao eh "exteriorizavel"... Deixe-me pensar, deglutir mais um pouco... Preciso encontrar momento certo, entre meus momentos incertos..Forte abraco cara... Prossiga, ainda que vc ja tenha cruzado a linha de chegada.
Ismael

 

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