segunda-feira, 22 de junho de 2009

O VIAGEIRO



Foto: Estrada Assombrada - Raul Nunes

De repente se confundiu todo. Sua cabeça que parecia exata e clara se mostrava turva e confusa. Via o que nunca vira antes. Sentia o inesperado. Parecia tudo brincadeira. Mas não era.
O carro que dirigia não parecia andar na estrada estreita. Pelo contrário. A estrada é que parecia rodar embaixo do carro que, se mantendo estático e fixo, ganhava velocidade. O destino parecia correto. Ia sem utilizar a direção. Sabia qual era o objetivo.
Ao chegar experimentou outra sensação. A de não precisar andar. As pernas, sem se movimentarem, levavam o corpo para uma casa desconhecida. A calçada é que se movia. Tudo sem explicação. Inédito. Obscuro. Da mesma forma entrou na casa, sem os movimentos das pernas. Foi sentado na mesa da cozinha pequena pela cadeira que se encaixou sobre suas pernas e nádegas e o que estava servido na mesa se movimentava e lhe alcançava a boca em doses corretas e pausadas. A cada tempo o guardanapo subia da mesa e lhe alcançava a boca limpando-a com certa delicadeza. Sentiu-se satisfeito e os alimentos pararam automaticamente de vir ao seu encontro. Um copo de suco se deslocou para selar a refeição.
Estranheza era o que sentia. Medo sob certo aspecto. Expectativa para saber o arremate daquilo tudo. Por que acontecia isso? O que ele fizera que autorizava esses acontecimentos estranhos? Quem comandava essa estranheza toda? Quem? Porque devia haver um comando. Alguém devia ter uma razão para esse exercício. Mas quem? E onde? Com que objetivo e para vantagem de quem?
Muito tempo já se passou. Até hoje ficou o amargo sabor do inexplicável. Nunca foi capaz de entender o acontecido naquele dia de Outono. Fato é que quando liga um carro e se aproxima de qualquer estrada tem a estranha sensação de que não precisa se preocupar. Será levado. Será guiado para seu destino.
Mesmo para o nunca revelado.
12 de maio de 2.009

4 Comentários:

Às 24 de junho de 2009 às 21:37 , Anonymous De... disse...

Ele não teve medo...eu teria!

Mas não deveria...pois somos mesmo guiados...para o nunca revelado.

Fantástico, Fred...adorei!!!

 
Às 24 de junho de 2009 às 21:39 , Anonymous De... disse...

Ah...e que imagem, hem?

Belíssima!

 
Às 25 de junho de 2009 às 23:19 , Anonymous Alfredo disse...

De e De... que bom que vc(s) comentou(aram)... isso é tudo que o escritor quer e precisa... Obrigado!

 
Às 29 de junho de 2009 às 11:58 , Blogger Tita disse...

Fred,
Gostei muito desse texto. Mais leve e solto, mais criativo.
Beijo,
Tita

 

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