A VÍRGULA
Sim. Aceitava-se como vírgula.
Como já fazia anos seu constante encolhimento até essa transformação em vírgula acabara se conformando, aceitando.
Era útil. Quase o tempo todo era requisitada para a ordenação de um texto. Tinha pouco descanso, mas não sofria com isso. Além do mais esse estágio era mais estável.
Não tinha mais que sofrer os dissabores que tinha quando comia letras... Isso era muito desagradável. Era mesmo.
Não gostava e não se conformava era com o amor. Entristecia-se. Gostaria de ser amada pelo bonito ponto de exclamação, pelo ponto de interrogação ou o elegante & comercial. Mas nada. Nunca era pousada junto a eles. Sempre estava longe e por isso não era notada.
O tempo acabou convencendo-a a ser menos exigente e a tentar se aproximar mais de figuras menos importantes como o hífen ou o underline. Nem isso.
Só mesmo as consoantes. Tinha uma queda especial pelas vogais. O M, o S, o T. Mas era raro estar próxima a eles. Na maior parte do tempo só mesmo as malditas vogais.
Tinha, assim, uma especial implicância com o O. Gordo, redondo, inexpressivo. Queria mesmo era um K, ou um L maiúsculos. Ou um I, elegante, formoso, alto. Quando não chovia, de Março a Setembro e desencolhia voltando ao tamanho humano normal então ficava sonhando com as consoantes. Falava com elas pela Internet, recebia promessas que sempre acabavam em nada. Desistiu. Não dava certo.
No seu último retorno a vírgula em 12 de outubro passado acabou se rendendo e assumindo sua relação com o S, mesmo torto e desequilibrado.
Por ora, parece que são felizes. Vivem de vocativos.
07 Out/2008
Marcadores: Conto
2 Comentários:
F.
Gostei muito deste texto. Os Ss tortos e desequilibrados combinam muito com as virgulas engolidoras de palavras e viver de vocativos está se mostrando de uma leveza ímpar.
T.
Que texto mais adorável. Oferce uma leitura gostosa, instigante e ao mesmo tempo leve e fluente.
Beijos
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